Igreja Evangelica Jesus Cristo é o Senhor: PALAVRA PASTORAL

terça-feira, 7 de julho de 2009

PALAVRA PASTORAL

O valor do trabalho
Pastor Jose Carlos M.dos Santos
“Gostaria muito de me envolver apenas com a igreja. Por enquanto não posso, pois preciso do meu emprego”; “ter de trabalhar é uma maldição. Bênção mesmo seria possuir recursos suficientes para nunca mais pegar no batente.”; “como seria bom ser um obreiro de tempo integral.” Qual é o crente que nunca ouviu – ou falou – frases como estas? A dicotomia entre o trabalho secular e o ministerial é uma das mais antigas no segmento evangélico. Muita gente se vê dividida entre a profissão e a vocação, como se a atividade estritamente espiritual não devesse ser misturada com o emprego convencional.No evangelho de Lucas, capítulo 5, lemos um memorável episódio vivido por Jesus junto a alguns pescadores. Aqueles trabalhadores foram encontrados pelo Mestre lavando suas redes, após uma frustrada noite de intenso esforço sem qualquer resultado. Os peixes simplesmente não apareceram.Pescar, àquele tempo, era uma atividade dura. Sem muitos recursos além da própria experiência e da força de seus braços, Pedro, Tiago e João provavelmente estavam exaustos. Eis que de repente surge um homem seguido por uma pequena multidão. Sem mais nem menos, o desconhecido pede um favor: ele gostaria que um dos pescadores permitisse que usasse seu barco. Somente assim seria possível afastar-se o suficiente para ser ouvido por todos. Um dos pescadores, Pedro, atende ao pedido e convida-o a subir a bordo. Jesus profere um sermão precioso, ensinando aos ouvintes coisas sobre o Reino de Deus e fazendo-lhes a promessa de uma vida melhor por meio da fé.O Mestre, ao terminar sua mensagem, volta-se aos trabalhadores do mar e sugere-lhes que voltem ao trabalho. Ato contínuo, oferece-se para acompanhá-los em uma nova pescaria. Tarimbados em seu ofício, os pescadores argumentam que passaram a noite ao largo, tentando localizar os cardumes, mas não capturaram um único peixe. Até então, eles trabalhavam sem Cristo. Entretanto, o poder de persuasão de Jesus, e sua doce autoridade, os convenceram a tentar. Mesmo cansados e, num misto de curiosidade e esperança, fizeram-se de novo ao mar. Era o início de sua primeira experiência de trabalho com Cristo.Ao contrário da melancólica noite anterior, esta nova pescaria foi um sucesso! A rede trouxe tantos peixes que foi preciso pedir ajuda a outros companheiros, pois apenas um barco não daria conta de tantos peixes. Atônitos, compreenderam logo que havia algo muito especial naquele Mestre. Ele, que nem pescador era, fora capaz de conduzi-los até onde estavam cardumes que ninguém tinha visto. Mas a surpresa era ainda maior. Já na margem, aqueles homens ouviram o convite que mudaria suas vidas: “Vinde após mim, e eu os farei pescadores de homens”. Era o início de seu trabalho para Cristo.Este episódio, tão conhecido por todos os crentes, é fundamental para esclarecer um pouco a grandeza do chamamento que temos em Cristo. Sem o Senhor, somos como pessoas que buscam simplesmente um emprego para sobreviver. Isso é justo e deve acontecer. Mas a prioridade dessas pessoas, após terem suas necessidades de suprimento básico atendidas, é o de buscar segurança pelo desenvolvimento de uma profissão. Após o ingresso em uma profissão, todos querem crescer, desenvolvendo uma carreira. Mas até aí, Cristo pode estar fora das decisões.Além dos passos do emprego, profissão e carreira, Cristo vem para dar mais sentido ao trabalho: ele reacende nossa vocação. Àqueles homens do mar, o Senhor prometeu peixes: “Vamos voltar ao mar e verão que grande pescaria serão capazes de fazer. Eu vou junto”. Jesus reacende a vocação, que é a região de confluência entre as habilidades que cada um já tinha desenvolvido com a atitude positiva e confiante de que precisavam. Mas Jesus vai muito além da vocação. Ele os envolveu numa missão. Pescadores de peixes, sim; pescadores de homens, algo muito além. A missão do próprio Mestre recebeu então cooperadores que eram gente comum – trabalhadores que conheciam o povo da região, falavam sua língua. Tinha, como se diz, o “cheiro” do povo.Esse episódio vivenciado por Cristo e alguns pescadores em comparação com as origens da Criação, leva-nos a entender a retomada do interrompido plano de Deus para a humanidade. Deus trabalha o tempo todo. Ele trabalhou intensamente durante toda a Criação, conforme vemos em Gênesis 1. Ele trabalha continuamente para aquele que nele espera (Isaías 64.4) e trabalha sempre em Cristo (João 5.17). Quando estabelece Adão sobre o Éden, o Criador o encarrega do trabalho de cuidar e cultivar a terra, conforme Gênesis 2.15.Até aí, tudo é bênção e faz parte da própria natureza divina. Esse era o plano: a humanidade trabalhando junto na Criação, a serviço do Senhor e com usufruto de tudo que fora criado. Infelizmente, aconteceu o pecado que distorceu não só a obra da Criação, como todo o seu propósito. O trabalho cai de sua categoria nobre. Nascem os espinhos, o suor, a dor, a praga, a ganância e outros desejos escusos do coração. A atividade laborativa passa a ser associada a uma natureza caída. Então, o trabalho perde sua vocação de servir, fomentar, desenvolver e promover.Cristo pode se envolver em seu trabalho. E você pode se envolver no trabalho dele. Quando ele se envolve em nosso trabalho, esse trabalho passa a ser dele também. Quando me envolvo em seu trabalho, este passa a ser meu também – logo, deixa de existir aquela separação. O crente em Jesus está em missão onde estiver. Meu trabalho é em si o local de realizar o trabalho dele. Isso implica em autoridade e testemunho. O trabalho com Cristo e para Cristo é bênção para a provisão. Ele é abundante para o compartilhar, supre nossa vida e é generoso para abençoar outros. O trabalho torna-se estimulante e prazeroso, promovendo o desenvolvimento das qualidades que temos, aguçando nosso senso de realizar, de concretizar, de cuidar e cultivar a Criação. E nos faz depender do Pai, ter forças para realizações ao lado dele e reconhecendo que tudo vem dele. Assim, percebemos que cada situação de trabalho – seja na pesca ou em qualquer outra atividade – é um verdadeiro milagre e nos conecta à comunidade, fazendo-nos integrantes da grande obra de reconstrução do coração de cada indivíduo. Resta-me dizer: vamos trabalhar com Cristo e para Cristo!

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