“Essa maneira de conceber o feminino tem sido um dos grandes problemas para a superação da dominação de gênero. A carga de culpa das mulheres por não corresponderem àquilo que é considerado ‘coisa de mulher’ é enorme”, declarou em entrevista para o Instituto Humanitas a professora Sandra Duarte de Souza, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da Universidade Metodista de São Paulo.
A mulher ideal descrita por esse tipo de literatura é concebida, na maioria das vezes, “como uma mulher domesticada de acordo com o padrão patriarcal da cultura”, definiu a pesquisadora. Essa mulher idealizada está no mercado de trabalho, tem que administrar tarefas domésticas, cuidar dos filhos, do marido.
Mas uma mulher comum não dá conta disso tudo, assinala a professora da Metodista. “Não é a toa que, na atualidade, o índice de mulheres com depressão que se acham fracassadas é enorme”, afirmou.
Apesar das muitas conquistas das mulheres em vários campos da vida, a identidade delas continua sendo afirmada a partir do casamento, da maternidade e de todas as representações que envolvem essa condição. “O acúmulo de atribuições inviabiliza uma vida saudável”, disse Sandra Duarte.
Boa parte dos livros evangélicos direcionados a mulheres “desculpam os homens por serem do ‘jeito que são’”, frisou. Sandra entende que, por não conseguirem conciliar toda a carga simbólica que carregam, as mulheres estão em crise, que as faz buscar respostas no campo religioso.
“Quando falamos de religião estamos falando de sistemas simbólicos. As representações do feminino e do masculino são construções socioculturais, portanto, são aprendidas. Por força do processo dialético de produção da sociedade, os sujeitos sociais passam a acreditar que essas representações são naturais”, explicou.
A religião pode, pois, contribuir para a naturalização dessas representações quando as afirma como sagradas, mas também pode funcionar como desconstrutora de relações de dominação de gênero, assinalou.
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