Estava naquela casa o ouvindo transmitir seus pensamentos. Bem
atento, eu e alguns outros homens esperavamos com paciência ele dizer
alguma blasfêmia e assim que falasse, eu iria tomar nota para usar
contra ele.
A casa era uma pequena choupana às margens do mar da Galileia. Estava
cheia, parecia ter mais gente do lado de dentro do que em toda Galileia
do lado de fora.
Mesmo tão cheia, havia gente ainda querendo entrar, mas era
impossível entrar, assim como era impossível sair. Todos lá dentro
estavam presos pelas suas palavras.
De repente, um feixe de luz mirou no papiro que eu segurava. Segui o
feixe pensando que apontava para janela, mas apontava para o teto e
quando olhei, já não era mais um, eram dois feixes. Mostrei para outro
escriba ao meu lado e quando ele olhou, já não eram mais dois, mas sim
três e depois quatro, cinco, seis…
Quanto mais feixes de luz surgiam, mais barro caiam em nossas
cabeças. Foi um alvoroço total, ninguém estava entendendo aquelas mãos
que mergulhavam pra dentro do teto e voltava pro céu puxando o telhado
de barro.
Não demorou muito e o sol já não entrava mais como feixe, mas como
uma coluna enorme oriunda de uma janela aberta no telhado. Logo entendi a
razão daquela janela aberta no teto: eram quatro homens querendo descer
por ela um paralítico para ser curado.
O paralítico desceu como um pêndulo. Enquanto eu e outras pessoas os
chamávamos de homens loucos e os mandava que parassem com aquilo, Jesus
os chamava de homens de fé e com as mãos erguidas, guiava a maca até o
chão.
Aquele paralítico olhou para Jesus cheio de esperança. Jesus então disse: homem, perdoados estão os teus pecados.
Pronto, conseguiamos o que tinhanhamos ido buscar! Anotei a blasfêmia
dita por ele (Perdoados estão os teus pecados), já podiamos irmos
embora, pois agora tinhamos subsídio para descartar a hipótese de ele
ser o messias e assim, podiamos entregá-lo aos magistrados.
Que blasfêmia tínhamos ouvido: ele havia se colocado no lugar de Deus, perdoando pecado.
Jesus percebeu que nós estávamos escandalizados e então, voltou o olhar para o paralítico e disse: levanta-te e anda. E ele levantou-se.
Eu não tinha acreditado que ele podia perdoar pecado, mas como ele
curou o homem, logo em seguida, eu acreditei. Pois, se ele pode operar
no corpo, por que não poderia operar na alma?
Aquele homem levantou-se e pegou o leito. O mesmo que passou a vida
toda o carregando, era agora carregado por ele. Todos atônitos, gritavam
glória a Deus e eu, disfarçadamente, rabisquei minha anotação, amassei o
papiro e o coloquei em meu bolso.
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