Edward Louis Bernays, referido no seu obituário como o "pai das
relações públicas", foi um pioneiro austríaco-americano no campo das
relações públicas e da propaganda. Ele combinou as ideias de Gustave Le
Bon e Trotter Wilfred sobre psicologia coletiva, com a visão da alma
humana de seu tio, Sigmund Freud.
Inspirado pela propaganda de guerra norte-americana, Bernays defendia
a necessidade do controle, pelas classes dominantes, da psicologia
coletiva, que ele via como potencialmente ameaçadora e irracional;
sujeita a um "instinto de rebanho", conforme Trotter havia descrito.
Bernays é considerado o criador dos atuais fundamentos das relações
públicas e foi nomeado um dos 100 americanos mais influentes do século
20 pela revista Life.
Bernays criou, na década de 1920, o conceito do consumo emocional, ao
desenvolver técnicas de propaganda voltadas para a promoção de uma
forma de consumo baseada não em necessidades reais, mas na sensação de
bem-estar proporcionada por um produto.
O mercado de consumo utiliza hoje, de forma intensiva, estas técnicas
de publicidade e marketing, com o objetivo de promover o aumento do
consumo, da forma mais generalizada possível. Estas técnicas estão cada
vez mais sofisticadas, e atualmente são capazes de gerar novas
necessidades de consumo em todas as classes sociais e faixas etárias, o
que constitui a essência do consumo emocional.
Através de técnicas de propaganda, é possível vincular uma marca ou
produto a um determinado apelo emocional em um público específico, que
passa assim a não apenas consumir, mas também a cultuar esta marca ou
produto, como ícone representativo de um estilo de vida ou de uma
ideologia.
A história da Apple Inc., talvez seja o exemplo mais emblemático de
consumo emocional. O consumidor dos produtos da Apple não é motivado
apenas por razões racionais, como qualidade ou nível tecnológico destes
produtos - que em alguns aspectos é igual ou até mesmo inferior a de
seus concorrentes -, e tampouco pelo seu preço, mas sobretudo pelo seu
apelo emocional e ideológico.
A Apple não inventou nada, apenas reciclou conceitos já existentes,
de forma a torná-los mais práticos e atraentes, sobretudo para um
público jovem. Até mesmo a concepção do seu computador pessoal e a
interface operacional foram recriadas pela Apple, a partir dos modelos
originais da Xerox Corporation, na década de 1970.
O mantra de marketing de Steve Jobs, o principal responsável pelo
sucesso destes produtos, era "o consumidor não sabe o que quer", o que é
apenas uma meia verdade. Na realidade o consumidor sabe o que quer:
alem de características mensuráveis como qualidade, praticidade e preço,
quer também prazer, diversão, comunicação, ideologia e arte, tudo isso
da forma mais exclusiva e pessoal possível. O consumidor apenas não tem
consciência destes desejos e esta estratégia de marketing explora
exatamente estes anseios não expressos de um público sempre ávido por
inovação.
Jobs soube agregar a produtos já existentes no mercado - cujas
funções entretanto eram extremamente restritas -, funções adicionais que
iam de encontro a estas necessidades implícitas do público consumidor,
de uma forma extremamente harmoniosa e atraente e nisto consistiu a sua
genialidade.
Jobs conseguiu associar as suas marcas a elementos
intangíveis como inovação, sofisticação estética e exclusividade. Os
produtos da Apple se tornaram símbolos de uma ideologia que prega,
essencialmente, que pessoas realmente inteligentes e bem sucedidas não
se confundem com a multidão e não se contentam com o que o mercado de
massa oferece.
Esta é a mesma ideologia que leva um homem a comprar um carro
personalizado, fabricado em uma linha de produção especial, ou que leva
uma mulher a comprar um vestido único, assinado por uma grife de alta
costura.
Entretanto, o consumo emocional não é um fenômeno exclusivo
de classes sociais abastadas. Jovens, crianças e adolescentes de
quaisquer classes sociais são especialmente suscetíveis a apelos
emocionais publicitários, que vinculam certos produtos a determinados
estilos de vida ou a ídolos e ícones culturais cultuados por sua
comunidade, em um determinado momento histórico.
Estes vínculos são altamente dinâmicos, de forma a se adequar com
rapidez às constantes mudanças dos valores culturais do público alvo de
cada tipo de produto.
As pessoas que são alvo das campanhas publicitárias que utilizam
apelos emocionais, ou que criam necessidades artificiais de uso de
certos produtos, estão muitas vezes totalmente conscientes dos motivos
que as levam a consumir estes produtos. Entretanto, elas concordam, de
forma tácita, em fazer parte deste jogo, simplesmente porque isto traz a
elas uma certa satisfação e bem estar, pelos quais elas estão dispostas
a pagar.
Esta é uma situação bastante perigosa, quando se leva em conta que os
produtos envolvidos nem sempre são de boa qualidade ou saudáveis, como
no caso de alimentos. Além disso, o consumo emocional ou frívolo, não
motivado por uma necessidade real, leva o indivíduo a um processo de
alienação da realidade à sua volta, em proporção direta ao grau de
resposta positiva que ele oferece aos apelos de que é alvo.
Para preencher o vazio deixado pela perda dos valores cristãos, a
sociedade cria necessidades inexistentes, como o entretenimento em tempo
integral, que de certa forma ajuda a mitigar a corrosiva angústia
causada por essa lacuna.
O sucesso dos chamados miniaplicativos o
simplesmente apps, criados para smartphones e tablets, se deve sobretudo
ao fato de que eles ajudam a manter o seu usuário completamente
absorvido em uma atividade que ele chama de entretenimento.
Nos Estados Unidos, é cada vez mais comum os pais presentearem
crianças com smartphones, substituindo a tradicional chupeta. Segundo o
jornalista Gilberto Dimenstein, em artigo publicado na Folha de São
Paulo (Mais estúpidos ou inteligentes? – 23/10/2011) cerca de 6% das
crianças americanas entre 2 e 5 anos e dois terços daquelas com idade
entre 4 e 7 anos já tem seu smartphone, abrindo assim um vasto mercado
para miniaplicativos.
O que os usuários destes aparelhos não
percebem, entretanto, é que esse entretenimento eletrônico bloqueia o
seu senso crítico e a sua capacidade de reflexão; além de desvirtuar,
com o uso constante, o seu senso estético e até mesmo a sua capacidade
afetiva.
Neste sentido, não é exagero afirmar que os dispositivos eletrônicos
que ocupam a cada dia um papel fundamental na rotina diária de um número
cada vez maior de pessoas, tem transformado essas pessoas, de forma
sutil, à sua própria imagem e semelhança.
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