
A missionária evangélica Lanna Holder ficou conhecida mundialmente por testemunhar que havia sido curada da homossexualidade. Deu palestras e promoveu o que seria a cura da homossexualidade em igrejas dos quatro cantos do mundo. Lanna acaba de protagonizar um episódio que abalou as estruturas evangélicas. Ela se apaixonou por uma cantora gospel de renome nos [...]
A missionária evangélica Lanna Holder ficou conhecida mundialmente por testemunhar que havia sido curada da homossexualidade. Deu palestras e promoveu o que seria a cura da homossexualidade em igrejas dos quatro cantos do mundo. Lanna acaba de protagonizar um episódio que abalou as estruturas evangélicas.
Ela se apaixonou por uma cantora gospel de renome nos Estados Unidos e se uniu à ela. A notícia de que ela voltou a ser homossexual abalou as estruturas de muitas igrejas que ouviram (e acreditaram) em seu primeiro testemunho de cura da homossexualidade. Junta com sua namorada, Lanna inaugurou em São Paulo a Comunidade Cidade de Refúgio, primeira denominação religiosa dirigida por um casal de lésbicas no Brasil. Hoje a missionária reconhece que nunca deixou de sentir atração sexual por mulheres e critica a postura das igrejas que, segundo ela, pregam uma libertação que não existe. Mesmo disposta a não falar mais de sua vida pessoal, já que se diz alvo de represálias de várias instituições evangélicas, ela aceitou receber a reportagem em seu escritório. Na ocasião, falou sobre a mentira em que viveu por anos devido à intolerância religiosa.
Antes você afirmava que a homossexualidade era possessão   demoníaca e hoje se arrepende da visão que tinha. O que te fez mudar de   opinião?
Quanto me converti, fui ensinada que a homossexualidade era uma   maldição, então expunha para os fiéis da maneira que eu havia aprendido.   Milhares de pessoas me procuravam para saber como eu havia deixado de   ser lésbica e no fundo sabia que continuava gostando de mulheres. Eu   professava aquela mentira na esperança de que um dia ela pudesse se   tornar verdade na minha vida. Realmente lutei porque acreditava que iria   mudar. Com o passar dos anos percebi que toda a teoria que eu pregava   não surtia efeito em mim e muito menos nas multidões que se apoiavam na   minha suposta cura. Resolvi deixar toda aquela vida falsa e mergulhei  no  estudo da teologia inclusiva, que considera a homossexualidade uma   orientação, algo natural, sem nenhuma condenação de Deus.
Existem muitos gays mal resolvidos dentro das igrejas?
As igrejas evangélicas estão cheias de homossexuais tentando se curar em   vão e por isso estão ficando doentes. O sucesso que eu fiz no passado   se deve justamente ao grande número de gays evangélicos que se   identificavam e se apoiavam no meu testemunho. Durante os cultos eles me   procuravam deseseperados para dizer que estavam sofrendo e sendo   discriminadas dentro da própria igreja e que precisavam de uma   transformação. Atualmente recebo jovens traumatizados que foram expulsos   de denominações evangélicas durante as reuniões porque eram  afeminados.
O que você diria para as pessoas perderam anos de duas vidas acreditando nas coisas que você falava?
Eu olho para a minha história, para todas as coisas que eu dizia e   lamento pelas pessoas que até se suicidaram, pessoas que geraram em seus   corações uma expectativa de mudarem sua sexualidade e não conseguiram.   Gente que achava que Deus me amava mais do que elas porque eu dizia  que  tinha sido liberta e não era verdade. Eu criei feridas no coração  das  pessoas e alimentei falsas expectativas. Tanta gente que, por minha   causa, lutaram dentro das igrejas para deixarem de ser gays e não   obteram exito. Peço perdão à todas essas pessoas. A igreja precisa   acordar para esse erro que está comprometendo a vida de tanta gente.
Contantemente os evangélicos te atacam no meios de comunicação. Como você reage?
Eles sempre lançam pedras e me chamam de mentirosa. Eles não enxergam   que eu deixei o vício das drogas, do cigarro e do álcool. O que Deus   pôde transformar na minha vida ele transformou, a única coisa que   continuou igual foi a minha sexualidade, que é algo intrínseco em mim e   não pode ser mudado. Isso não é uma escolha, mas sim uma orientação.   Quem escolheria sofrer e ter um bando de crente hipócrita lançando na   cara da gente que somos uma maldição? Ninguém no mundo escolhe sofrer.
Qual recado você daria para aquelas pessoas que ainda estão tentando ser curadas?
Eu tenho 49 anos e a maior parte da minha vida, assim como a de tantos   evangélicos, foi jogada fora. Fiquei dentro de um armário porque se eu   assumisse quem realmente era não poderia pregar, ser missionária, e   muito menos considerada crente. Tive que omitir e esconder a minha   sexualidade, proferindo que havia sendo curada, para conseguir continuar   exercendo o meu ministério. Isso não vale a pena, cansei disso.
Qual é a proposta da Comunidade Cidade de Refúgio?
Deus não faz acepção de pessoas. Essa nova igreja foi criada para   desmistificar a postura equivocada dos cristãos e para receber aqueles   que querem viver com Deus, mas que não são aceitos por sua condição   sexual. Praticamente todos os membros que recebemos, são pessoas   rejeitadas por igrejas evangélicas. Aqui os casais gays poderam viver em   paz, pregar, cantar e exercer seus dons diante de Deus. Aqui podemos   reconhecer que somos gays, somos cristãos e somos felizes. Nos sentimos   completamente amados e aceitos por Deus.
Você passou por algum tipo de ritual de libertação?
Todos que você possa imaginar. Fiz intensas sessões de regressão e cura   interior, me entreguei para todas essas propostas, mas obviamente nada   fez com que eu deixasse de ser lésbica.
Como é a sua atual relação com a igreja evangélica e com a sua família que pertence à denominações tradicionais?
Hoje não tenho nenhuma proximidade com os evangélicos e eles não aceitam   minha atual condição. Todas as igrejas que no passado me convidavam   para pregar não se comunicam mais comigo. Qualquer tipo de aliança foi   quebrada porque eles consideram a homossexualidade possessão, maldição   hereditária e algumas até mesmo doença. Eles não concordam com a visão   que passei a seguir e são completamente opostos ao que estou pregando   atualmente. A minha família tem a mesma postura, precisei me desligar   deles para viver esse novo ministério.
Você se tornou uma das celebridades mais rentáveis do meio   gospel. Qual foi o destino dos produtos comercializados com o seu nome?
É inevitável que as vendas diminuam. Aqueles que compravam não compram   mais. Como o preconceito da igreja evangélica continua cada vez maior, a   primeira atitude deles foi retirar todos os produtos com meu nome de   suas livrarias.
Como você conheceu sua atual companheira?
Conheci a cantora  e pastora Rosania Rocha em Bonton, nos Estados Unidos,  na Assenbléia  de Deus, igreja onde congregávamos. Nós éramos muito  conhecidas entre o  evangélicos e começamos a nos encontrar em viagens  para pregar e  cantar, foi quando iniciou o envolvimento. Na época  contamos para a  liderança da igreja com o objetivo de nos separármos.  Eles reagiram da  pior maneira possível, trouxeram o assunto à público e  fomos humilhadas  por evagélicos no Brasil e nos Estados Unidos. Depois  dessa situação,  resolvemos nos separar de nossos maridos e nos unir.
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